Os Glaucomas

Os glaucomas são uma doença plural: o glaucoma congénito, pouco frequente, mas grave pela limitação visual que pode impor desde o nascimento; o glaucoma agudo, por encerramento súbito do ângulo da câmara anterior do olho, verdadeira urgência oftalmológica, o único verdadeiramente sintomático (e muito doloroso) que conduz a rápida perda de visão se não tratado imediatamente; e, por fim, o mais frequente, o glaucoma de ângulo aberto, primário ou secundário.

Qualquer que seja o tipo de glaucoma, eles têm um denominador comum: levam à perda de fibras do nervo óptico, causando uma atrofia típica da sua porção visível (a escavação glaucomatosa), que se traduz clinicamente na perda progressiva e, irreversível, do campo visual, atingindo de forma mais ou me- nos rápida, a visão central, com impacto funcional importante.

A fisiopatologia é discutível, mas a hipertensão ocular é, clara e comprovadamente, o principal factor de risco para o glaucoma. O envelhecimento conduz a perturbações na drenagem do humor aquoso para fora do globo ocular, nomeadamente a nível do trabéculo pigmentado que filtra a saída do humor aquoso no ângulo camerular, conduzindo a um mecanismo de resistência aumentada que é dos mais importantes na fisiopatologia da doença. No entanto, factores vasculares, que diminuam a perfusão do nervo óptico, podem estar envolvidos, bem como factores genéticos.

Então, já temos aqui os principais factores de risco para glaucoma: em primeiro lugar, de longe, a hipertensão ocular. Em segundo, a idade e a história familiar de glaucoma. Mas também os factores vasculares, a diabetes e eventualmente a raça negra e a alta miopia.

A gravidade do glaucoma consiste na sua irreversibilidade e tendência persistente de progressão. Depois, por afectar a visão, o órgão dos sentidos mais valorizado, e também o mais diferenciado: os dois nervos ópticos contêm cerca de um terço de todas as fibras nervosas que entram no sistema nervoso central. E também, pela sua prevalência: entre 1 a 3 % na população acima dos 55 anos. Esta estimativa baseia-se em dados dos E.U.A e União Europeia, que também apontam para percentagens de doentes não diagnosticados que podem atingir 50% dos casos referenciados. E por último, não esquecer que cerca de 15% dos doentes com glaucoma vão sofrer de cegueira legal, pelo menos em um dos olhos.

Diagnosticar o glaucoma não é fácil – cursa de forma assintomática até ao aparecimento de perda significativa do campo visual ou visão central, e nessa fase é difícil parar a sua progressão até estadios terminais. Em boa verdade, mesmo a sua deteção por exame de campos visuais só surge quando cerca de 30% das células ganglionares já estão perdidas! É por isso que mediatizamos o glaucoma como “o ladrão silencioso da visão”.

Outro meio de diagnóstico, mais sensível e precoce que os campos visuais, é o OCT – Tomografia Óptica Coerente. Este é um meio estrutural de diagnóstico, que avalia por cortes tomográficos o nervo óptico, detectando precocemente as zonas de perda celular.

Na prática clínica, a medição da tensão ocular é um aspecto de particular importância: por ser o mais importante e único factor de risco onde podemos actuar. Por outro lado, o seu controle constitui a forma mais prática e imediata de ter uma ideia aproximada sobre o controle da doença. Portanto, baixar a pressão ocular elevada, trazendo-a para valores onde não haja progressão da doença é forma mais eficaz que conhecemos de tratar os glaucomas.

Qual o valor máximo de tensão ocular normal? Um hipertenso ocular é um indivíduo com tensão superior à média estatística da população onde se insere: para nós, esse valor corresponde classicamente aos 21 mmHg. Estudos mostram que o risco significativo de desenvolver glaucoma surge acima dos 24 mmHg e torna-se crítico acima dos 29 mmHg. Mas sabemos que há glaucomas a agravar com valores inferiores a 21 mmHg, pelo que é essencial ajustar a terapêutica individualmente ao nosso doente. A medição da tensão ocular é um aspecto tão importante na génese do glaucoma, e no seu próprio diagnóstico e terapêutica, que na Clínica ALM dispomos de técnicas diferenciadas de medição, incluindo os modernos dispositivos de avaliação de tensão ocular em 24 horas. A equipa de

Técnicos ortoptistas da Clínica está preparada para treinar e ajudar os doentes na execução deste último exame.

A maior parte dos glaucomas é controlado mediante a utilização de medicamentos sob a forma de gotas oculares. Menos aplicações diárias e menos efeitos secundários são aspectos importantes quando falamos de terapêuticas a manter durante anos consecutivos, muitas vezes, senão a maior parte, quando o doente não sente ainda os sintomas da doença de que sofre. Tratamentos confortáveis ajudam a evitar o abandono da terapêutica, um dos problemas com que mais nos debatemos nos estadios as- sintomáticos da doença. Na ALM, sabemos que a motivação e apoio da nossa Equipa de Saúde, bem como do círculo familiar, são fundamentais.

Outra arma terapêutica consiste no tratamento a laser. Constitui a forma mais utilizada de prevenir e tratar os glaucomas de ângulo estreito. Na ALM a trabeculoplastia selectiva (SLT) está também disponível para o tratamento de alguns glaucomas de ângulo aberto, bem como técnicas ciclodestrutivas (diminuição da produção de humor aquoso) por ultra-sons.

Por fim, a cirurgia: para os casos em progressão e/ou com tensões oculares elevadas não controláveis sob outras terapêuticas ou intolerantes às mesmas: cirurgia filtrante, com ou sem implante de um dispositivo de drenagem. Mas também, graças ao avanço tecnológico, na clínica ALM a abordagem microcirúrgica minimamente invasiva (micro-implantes trabeculares ou dispositivos conjuntivais), quando indicado, e que tem permitido alargar o leque de indicações para cirurgia, aumentado a segurança, acelerando a recuperação visual e diminuindo o desconforto pós-operatório. As cirurgias de glaucoma são geralmente feitas com anestesia local e em regime ambulatório.