
A oftalmologia em Portugal está ao nível do que de melhor se pratica a nível internacional, não só em termos de terapêuticas médicas, cirúrgicas, em termos tecnológicos e de exames complementares de diagnóstico.
O maior acesso a cuidados médicos por parte da população, o aumento da esperança de vida e o desenvolvimento de meios complementares de diagnóstico vieram aumentar a frequência de patologia oftalmológica e o seu diagnóstico mais atempado.
Temos hoje obrigação de responder atempadamente e com o melhor estado da técnica disponível às solicitações e problemas dos doentes, alargando-se e diversificando-se o mercado a um ritmo avassalador.
Hoje a globalização chegou a todas as áreas, incluindo à medicina. Assim, o que se faz numa cidade, num país, chega rapidamente a toda a comunidade médica, via canais próprios da internet, publicações periódicas específicas, reuniões internacionais frequentes dos diferentes grupos de sub-especialidades, o que nos permite uma atualização constante. E em Portugal a medicina que se pratica e a tecnologia empregue estão ao nível do que de topo se faz a nível mundial, ainda que, infelizmente, nem sempre haja essa perceção.
Iniciei recentemente uma técnica minimamente invasiva para terapêutica da obstrução das vias lacrimais. A obstrução adquirida das vias lacrimais é encontrada com alguma frequência na prática clínica, aumentando com a idade. Esta situação, ainda que benigna, pode ser bastante incómoda, causando lacrimejo mais ou menos exuberante, o que pode vir a interferir com a visão. Obstruções da porção distal da via lacrimal podem provocar, além disso, abcessos do saco lacrimal – dacriocistites, obrigando a antibioterapia sistémica recorrente. A terapêutica destas obstruções é cirúrgica e pretende restabelecer a normal drenagem da lágrima da superfície ocular para as fossas nasais, uma dacriocistorrinostomia, mais conhecida por DCR. Atualmente a DCR pode ser feita por uma técnica minimamente invasiva, por via transcanalicular com laser. Na DCR transcanalicular, uma sonda é introduzida no canalículo lacrimal inferior através do ponto lacrimal, percorrendo a via até ao saco lacrimal. É então realizada uma osteotomia – uma comunicação entre o saco lacrimal e o corneto médio da fossa nasal – utilizando um feixe de laser. Não há cicatrizes externas.
Esta cirurigia – a DCR LASER transcanalicular – tem vantagens sobre a DCR mecânica clássica, incluindo o encurtamento do tempo de cirurgia, a ablação mais precisa dos tecidos com o laser, com traumatismo mínimo para os tecidos circundantes. É um procedimento eficaz e seguro, com um risco mínimo de complicações e com rápida recuperação para o doente. Pode ser realizada em regime ambulatório.
É uma cirurgia com elevada taxa de sucesso, sobretudo se não se tratarem de tecidos com traumatismo ou cirurgias prévias. A maior parte das casuísticas publicadas aponta para uma taxa de sucesso entre os 75 e os 90%. Atualmente, da mesma forma que se aplica noutras cirurgias oftalmológicas, tem-se vindo a recorrer cada vez mais à aplicação intra-operatória de Mitomicina C, aumentando a taxa de sucesso para os 98-99%. Claro que existe hipótese de re-obstrução, mas quando acontece, é geralmente por formação de membranas ou granulomas a nível da osteotomia o que pode facilmente ser resolvido com a reaplicação da sonda de laser via transcanalicular.
BIOGRAFIA
Eunice Guerra é especialista em Oftalmologia, dedicando-se em particular à cirurgia oculoplástica – cirurgia reconstrutiva e estética das pálpebras e cirurgia das vias lacrimais, assim como à cirurgia refrativa e córnea, nomeadamente cirurgia de catarata, Lasik e lentes intraoculares, cirurgia do queratocone. Realizou o Internato Complementar de Oftalmologia entre 2005 e 2009 no Centro Oftalmológico de Lisboa, onde permaneceu até 2011 e onde integrou os departamentos de oculoplástica e de cirurgia refrativa/ córnea. Pertence ao corpo clínico da ALM Oftalmolaser desde 2009. Em 2011 foi co-fundadora do Serviço de Oftalmologia do Hospital Vila Franca de Xira, onde mantém funções de Assistente Hospitalar. Integra mais duas unidades do grupo, o Hospital CUF Infante Santo e a C. CUF Miraflores. Ao longo da sua formação passou por experiências profissionais na área de cirurgia refrativa/ córnea no Moorfields Eye Hospital em Londres e no Instituto de Microcirurgia Ocular de Barcelona e na área da oculoplástica na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. É autora/ co-autora de publicações científicas, assim como comunicações orais em congressos nacionais e internacionais.